sexta-feira, 13 de março de 2009

Coluna do Juremir (CP 13/03/09)

(IN)FIDELIDADE PARTIDÁRIA

Partidos são estruturas políticas do século XIX. Falidas. Boa parte dos eleitores vota mesmo é em pessoas e nada tem de errado nisso. Sou a favor de candidaturas avulsas. Sem partido. A fidelidade do candidato deve ser às ideias expressas durante a campanha ou, melhor ainda, defendidas ao longo da vida. O partido, bem entendido, funciona como um depósito das ideias com as quais o candidato estaria comprometido. Um modo didático de saber onde se insere. Ou deveria funcionar assim. Acontece que os partidos cada vez mais têm menos ideias. Ou as ideias que têm não servem para diferenciar uns dos outros. Qual é, de fato, a diferença radical entre o PMDB, o PT, o PSDB, o PTB, o PP e o Dem? O número de cargos nos governos.
A infidelidade predomina. Mesmo quando o voto é numa pessoa que não muda de partido, o comportamento infiel pode se consumar. O eleito muda de personalidade. O eleitor também é infiel. Muda de candidato e até de partido de uma eleição para outra. A estrutura partidária é apenas uma forma de curral a serviço dos coronéis da política. O voto em lista fechada, defendido por alguns, representará a porteira lacrada dessa mangueira. O melhor mesmo seria abolir os partidos e votar só em indivíduos. Precisamos de hipóteses devastadoras. A infidelidade é tamanha e tão sorrateira que pode se dar sem que haja barulho ou oficialização. É o caso do presidente da República. Faz tempo que Luiz Inácio deixou o PT. Continua, porém, sendo apoiado pelos petistas e pretende impor a candidatura de Dilma. Luiz Inácio está no PMDB. No Senado, seus principais aliados não são Mercadante, Ideli e Tião Vianna, mas Sarney, Calheiros e Collor.
A migração de Luiz Inácio para o PMDB não exigiu sequer a abertura da tal janela do motel, essa que permitirá aos infiéis saírem do armário e ir para casa, mesmo que seja a da amante. Deu-se ao natural. É possível que esteja acontecendo uma migração ainda mais extraordinária, um verdadeiro êxodo, sob o olhar indiferente de todo mundo, ficando o Mar Vermelho para trás: todo o PT estaria migrando silenciosamente para o PMDB. Muitos eleitores talvez permaneçam fiéis a um partido autêntico que já não existe. Se tivéssemos de fazer um filme com um título bem original, digamos, 'Todos os Homens do Presidente', os personagens desse título seriam: Michel Temer, Geddel Vieira, Jader Barbalho, Henrique Eduardo Alves, Fernando Diniz, Eliseu Padilha, Eunício Oliveira e Eduardo Cunha.
Alguns desses personagens já frequentaram as páginas policiais com desenvoltura. Geddel, ministro no atual governo de Luiz Inácio, brilhou como protagonista numa obra de grande realismo intitulada 'Os Anões do Orçamento'. Barbalho, no tempo em que o PT ainda estava no PT, era a besta-fera a ser combatida. Política, como diz Sarney, é conversa. Fiada. Graças à infidelidade e ao diálogo, os partidos vivem em congraçamento. PSDB e Dem fazem de conta que se opõem a isso. É questão de posição na largada. Querem liderar e não apenas integrar a base aliada. Quando chegam ao poder, tratam de se associar ao PMDB para ter com quem jogar conversa fora. Só Jarbas e Simon são fiéis até o fim. O eleitor, especialmente o petista, é um marido traído. Alguns nunca chegarão a saber. Como dizem os franceses, chapeau! Opa! Tirar (ou botar) o chapéu é um problema de (in)fidelidade.

juremir@correiodopovo.com.br

Um comentário:

  1. Esse texto, como os outros que o professor Gilberto posta no blog são os mais interessantes que um bom leitor e crítico pode ter a disposição como leitura e informação....
    obrigado pela transmissão (será esse o termo?) de cultura!!
    abraço
    Ari Meneghini

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